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O Batuque: Religião Afro-brasileira de culto aos Orixás

Batuque é uma Religião Afro-brasileira de culto aos Orixás encontrada principalmente no estado do Rio Grande do Sul, Brasil, de onde se estendeu para os países vizinhos tais como Uruguai e Argentina.

Batuque é fruto de religiões dos povos da Costa da Guiné e da Nigéria, com as nações Jêje, Ijexá, Oyó, Cabinda e Nagô.

A estruturação do Batuque no estado do Rio Grande do Sul deu-se no início do século XIX, entre os anos de 1833 e 1859. Tudo indica que os primeiros terreiros foram fundados na região de Rio Grande e Pelotas. Tem-se notícias, em jornais desta região, matérias sobre cultos de origem africana datadas de abril de 1878, (jornal do comércio, Pelotas). Já em Porto Alegre, as notícias relativas ao Batuque, datam da segunda metade do século XIX, quando ocorreu a migração de escravos e ex-escravos da região de Pelotas e Rio Grande para Capital.

Os rituais do Batuque seguem fundamentos, principalmente das raízes da Nação Ijexá, proveniente da Nigéria, e dá lastro as outras nações como o Jêje do Daomé, hoje Benim, Cabinda (enclave Angolano) e Oyó, também, da região da Nigéria. O Batuque surgiu como diversas religiões afro-brasileiras praticadas no Brasil, tem as suas raízes na África, tendo sido criado e adaptado pelos negros no tempo da escravidão. Um dos principais fundadores do Batuque foi o Príncipe Custódio de Xapanã. O nome batuque era dado pelos brancos, sendo que os negros o chamavam de Pará. É da Junção de todas estas nações que se originou esta cultura conhecida como Batuque, e os nomes mais expressivos da antiguidade, que de uma maneira ou de outra contribuíram para a continuidade dos rituais foram:

Ijexá — Paulino de Oxalá Efan, Maria Antonia de Assis (Mãe Antônia de Bará), Manoel Matias (Pai Manoelzinho de Xapanã), e Pai Idalino de Ogum entre outros.

Oyó — Mãe Andrezza Ferreira da Silva, Pai Antoninho da Oxum, Mãe Moça de Oxum e Tim de Ogum, entre outros.

Jêje — Mãe Chininha de Xangô, Príncipe Custódio de Xapanã, João Correa de Lima (Joãozinho de Bará) responsável pela expansão do Batuque no Uruguai e Argentina.

Cabinda — Waldemar Antônio dos Santos de Xangô Kamuká; Maria Madalena Aurélio da Silva de Oxum, Palmira Torres de Oxum, Pai Henrique de Oxum, entre outros.

Nagô – Paulo de Agandju, Imbrain de Oyá Mesan, Aldirio de Xangô, Aída Ricciardi Chiarelli de Agandju, Volni de Ogun, Enio Gonçalves de Ogun, Leda Feijó de Oxum, João Carlos Lacerda de Oxum, Norma Feijó de Xangô, Baba Evanisé de Xangô Alafin Exê, João Cunha de Xangô Djakuta, Veleda de Bará, Arminda de Xapanã, Zé Coelho de Odé Otulú, Professor Lino Soares de Odé, Albertina de Bará, Vó Diva de Odé, Vô Lourenço de Odé, Paulo Vieira Nunes de Bará-Odé, Pai Lélo de Xangô

As entidades cultuadas são as mesmas em quase todos terreiros, os assentamentos têm rituais e rezas muito parecidos, as diferenças entre as nações é basicamente em respeito às tradições próprias de cada raiz ancestral, como no preparo de alimentos e oferendas sagradas. O Ijexá é atualmente a nação predominante, encontra-se associado aos rituais de todas nações.

O batuque é uma religião onde se cultuam vários Orixás, oriundos de várias partes da África, e suas forças estão em parte dentro dos terreiros, onde permanecem seus assentamentos e na maior parte na natureza: rios, lagos, matas, mar, pedreiras, cachoeiras etc., onde também invocamos as vibrações de nossos Orixás.

Todo ser humano nasce sob a influência de um Orixá, e em sua vida terá as vibrações e a proteção deste Orixá que está naturalmente vinculado e rege seu destino, com características individuais, em que o Orixá exige sua dedicação, onde este poderá ser um simples colaborador nos cultos, ou até mesmo se tornar um Babalorixá ou Yalorixá.

Há uma questão de ordem etimológica no termo Pará, onde afirma-se ser este o outro nome pelo qual é conhecido o Batuque, ora sabe-se que todo frequentador de Terreiros chama na verdade o Peji ou quarto de santo de Pará e não o ritual sagrado dos Orixás, este sim o Batuque. Esta questão já está dimensionada desde os anos 50, nas pesquisas etnográficas de Roger Bastide sobre a Religião Africana no Rio Grande do Sul. São consideradas Religiões Afro-Brasileiras, todas as religiões que tiveram origem nas religiões africanas, que foram trazidas para o Brasil pelos escravos.

Batuque, Candomblé, Catimbó, Culto aos Egungun, Culto de Ifá, Tambor-de-Mina, etc. As Religiões Afro-Brasileiras são relacionadas com a Religião Yorubá e outras Religiões africanas, e diferentes das Religiões Afro-Caribenhas como a Santeria e o Vodu.

Roupas da cor dos Orixás e fios de contas. O culto, no Batuque, é feito exclusivamente aos Orixás, sendo o Bará o primeiro a ser homenageado antes de qualquer outro, e encontra-se seu assentamento em todos os terreiros, no Candomblé o chamam de Exú.

Entre os Orixás não há hierarquia, um não é mais importante do que o outro, eles simplesmente se completam cada um com determinadas funções dentro do culto. Os principais Orixás cultuados são: Bará, Ogum, Oiá-Iansã, Xangô, Ibeji (que tem seu ritual ligado ao culto de Xangô e Oxum), Odé, Otim, Obá, Ossain, Xapanã, Oxum, Iemanjá, Oxalá e Orunmilá (ligado ao culto de Oxalá).

E há também divindades que nem todas nações cultuam como: Exú Elegbara, Gama (ligada ao culto de Xapanã), Zína, Zambirá e Xanguín (qualidade rara de Bará) que só os mais antigos tem conhecimentos suficientes para fazer seus rituais.

No Rio grande do Sul a área de conservação das religiões africanas vai de Viamão à fronteira do Uruguai, com os dois grandes centros, Pelotas e de Porto Alegre.

No batuque, os templos, terreiros, são quase que em sua totalidade vinculados as casas de moradia. É destinado um cômodo, geralmente na parte da frente da construção onde são colocados os assentamentos dos Orixás. Neste local são feitos todos os fundamentos de obrigações, trabalhos e oferendas para os Orixás. O local é considerado sagrado, pessoas vestidas de preto, mulheres em dias de menstruação não entram. Junto à esta parte da casa, chamada de quarto de Santo ou Peji, há o salão onde são realizadas as festas para os orixás.

O estado do Rio Grande do Sul foi o maior responsável pela exportação dos rituais africanos para outros países da América do Sul, entre eles Uruguai e Argentina, que também procuram seguir a maneira de cultuar os Orixás; e a construção dos templos seguem exemplos dos seus sacerdotes.

Serão ou Corte aos Orixás

A Religião Africanista é em seus fundamentos voltada para o passado, mantém até hoje ensinamentos e preceitos, desde o tempo mais remoto, do negro na África e chegou até nós através dos escravos. Sobreviveu a todos os períodos de opressão e perseguição. Daí a enorme importância da obrigação de corte aos Orixás, pois é a preservação da cultura que ao mesmo tempo em que ofertava certos sacrifícios aos Orixás alimentava seu povo com a carne do sagrado. Depois adiantando na linha do tempo, entramos nas casas comuns e nos terreiros em que os animais andavam soltos no pátio e serviam para a subsistência familiar, ainda não existia as facilidades que hoje são disponíveis nos supermercados.

Há a crença de que a Balança não pode ser aberta, isto é, as pessoas devem permanecer de mãos dadas até que se inicie o alujá, caso a balança arrebente algo de grave pode acontecer a um dos participantes da balança, podendo até ser a morte.

Mas caso haja alguma ameaça de arrebentar a Balança, cabe ao alabê, mudar imediatamente o axé indo direto para a execução do Alujá de Xangô. Por causa desta crença, muitas pessoas esquivam-se de participar da Balança, porém é uma obrigação muito forte onde se confirma que o ebó que está sendo realizado é de quatro-pés, o axé que emana no salão durante a balança é algo muito forte, sentido por todos os presentes.

Axé dos Presentes: Geralmente acontece quase no final do Batuque, os Orixás que estão aniversariando “apresentam” seus bolos, tantos os Orixás quanto os filhos de santo que não se ocupam, mostram a todos o seu bolo com a vela acesa (correspondente aos anos de assentamento do Orixá), enquanto são saudados pelos presentes. Depois os bolos são servidos aos convidados e o excedente é distribuído juntamente com os mercados. São de costume também, os convidados ofertarem presentes ao Orixá do Babalorixá ou Yalorixá por ocasião de seu aniversário de aprontamento. Os presentes mais comuns são: flores, perfumes, doces, utensílios que podem ser usados no dia-a-dia Ylê, etc. É neste momento que o Babalorixá ou Yalorixá ou o próprio Orixá apresenta a todos o presente recebido. Mantendo um costume desde o tempo dos escravos, o Passeio. Saindo do Ilê, vão até o centro da cidade visitar lugares de grande significado para a comunidade.

O serão ocorre geralmente na sexta-feira à noite, começa entorno dás 20:00 horas e estende-se muitas vezes até a madrugada, nas obrigações de borí e de apronte que serão feitas.

No serão são imolados animais quadrúpedes (aos quais chamamos de quatro-pés) e de aves. As oferendas feitas aos Orixás são de origem animal assim como vegetal (folhas, plantas, grãos) e mineral: os ocutás, a água, etc. Os animais são ofertados os Orixás com o intuito de fortalecer o axé do Orixá, assim como a mente e espírito do filho de santo através do axorô (sangue do animal) e das inhélas, certas partes dos animais que serão fritas e arriadas no Quarto de santo.

A carne dos animais imolados será preparada em forma de canja, de amalá, assados, enfarinhados e consumido pelo povo durante o período de obrigação e pelas pessoas que comparecerem ao toque, Batuque. Os couros retirados dos animais, depois de preparados são utilizados na confecção dos tambores, instrumentos tocados durante o Batuque. Nada é desperdiçado, quando não é consumida a totalidade de carne e de comida preparada, o restante é doado a entidades carentes nas proximidades.

Preparação do Toque

No dia posterior ao corte, permanecem alguns filhos de santo no Ilê para preparem em todos os detalhes, o toque que irá acontecer no sábado ou domingo, dependendo do Ilê. As principais atividades acontecem na cozinha, considerada a parte mais importante do Ilê depois do Quarto de santo. É necessário que um filho de santo, mais experiente e de extrema confiança do Babalorixá auxilie na organização de tudo que deve ser feito, pois, os afazeres são muitos e o tempo escasso.

Além de todas as comidas de santo, devem ser feitas comidas tradicionalmente sagradas e significativas que serão servidas ás visitas que são esperadas mais tarde no toque.

Com as aves preparam-se: canja, galinha assada, galinha enfarofada. Com a carne do carneiro faz-se o amalá, comida consagrada ao Orixá Xangô: A carne cozida e desfiada é agregada ao molho com folhas de mostarda picada, servido com pirão de farinha de mandioca. Os cabritos e porcos são assados e servidos em pedaços. Faz-se também canjica de milho branca e amarela, além de uma grande variedade de doces como: sagu, pudim, ambrosia, quindim, docinhos, etc. para beber serve-se o atã, bebida típica do Orixá Ogum, feita com frutas minusculamente cortadas, misturadas com guaraná e xarope de groselha. Os miúdos dos quatro-pés é cozido e picado de forma bem miúda para se fazer o sarrabulho, uma espécie de farofa temperada com cheiro verde, cebola e os miúdos picados. As filhas de Iansã, ajudadas por outros irmãos fazem o acarajé, comida consagrada ao seu Orixá de cabeça. Havendo disponibilidade faz-se ainda os bolos que serão ofertados pela ocasião do aniversário de assentamento dos Orixás.

A preparação do toque segue com a arrumação do Quarto de santo que deve ter: flores, perfumes, as comidas de santo, atã, pelo menos uma porção de cada comida que está sendo feita para o povo, frutas, balas enroladas em papéis coloridos, os bolos de aniversário. Além das inhélas e das vasilhas contendo as obrigações e de outros fetiches religiosos. Há ainda a arrumação do salão, onde acontece o toque, e das demais dependências do Ilê que depois da limpeza são organizadas para melhor receber os convidados, Babalorixás e Yalorixás que juntamente com seus filhos de santo vêm prestigiar a obrigação.

O Mercado

Também faz parte da preparação para o toque a confecção dos mercados que serão distribuídos no final do Batuque.

Os mercados são pacotes onde se colocam as comidas de santo para serem ofertados ás visitas simbolizando a distribuição e a extensão do axé de prosperidade, fartura e fraternidade a todos os lares e Ilês.

O axé obrigatoriamente deve ser dividido entre os que compareceram ao toque, principalmente quando o ebó é de quatro-pés. Cada Ilê acondiciona o mercado da maneira que lhe convém: em bandejas, em pacotes, em caixas de papelão, etc. Porém o que não muda muito é o conteúdo do mercado.

O mercado deve conter: pedaços de carne de cabrito assada, frutas, bolo, axoxô (milho cozido, pertence à Obá), pipoca (pertence à Bará), batata doce frita em rodelas ou acarajé (pertence à Iansã), doces – quindim, docinhos, balas (pertence à Oxum), farofa de Xapanã (farinha de mandioca pilada com amendoim e açúcar). No final do toque também são distribuídos, bolos, carnes, frutas.

O babalorixá, muitas vezes presenteia os Babalorixás e Yalorixás que estão de visita com flores do Quarto de santo, para que sejam colocadas em seus Quarto de santo, como sinal de agradecimento pelo comparecimento no ebó. Caso ainda sobre alguma comida ou fruta, deve ser doado a pessoas carentes ou instituições de caridade.

O Toque

O toque geralmente inicia ás 23:00 horas, quando todos os filhos de santo devem estar presentes e devidamente trajados de seus axós, para auxiliar o Babalorixá ou Yalorixá a recepcionar os visitantes. O início do toque se dá com a chamada: todos em silêncio, ajoelham-se, enquanto o Babalorixá em frente ao Quarto de santo, tocando o adjá (espécie de sineta) saúda a todos os Orixás, de Bará a Oxalá, fazendo pedidos de abertura, de paz, saúde e prosperidade a todos os presentes. Os filhos de santo respondem com a saudação específica de cada Orixá.

Os alabês (tamboreiros), “puxam” os erís, isto é, tocam os tambores enquanto entoam os erís, para que os presentes respondam, e a roda se forma no centro do salão, movimentando-se no sentido anti-horário. Os erís têm coreografias adequadas a cada orixá ou a cada “passagem”, (relação da reza com alguma história daquele orixá), por exemplo: nos erís do Orixá Ogum ora dança-se simulando com as mãos o trabalho do ferreiro na forja, ora dança-se simulando a utilização de uma lança, relacionando com Ogum guerreiro.

Todos podem fazer parte da roda, adultos, crianças, iniciados e prontos, porém alguns detalhes devem ser observados. Participam da roda pessoas que estejam de axó (calça comprida para os homens, e no mínimo saia para as mulheres, desde que não seja curta), mulheres em período menstrual não participam do Batuque, mas podem auxiliar na manutenção, na limpeza e na recepção dos convidados. As pessoas que estiverem de luto também não podem participar do ebó, ficando somente na assistência.

Os Orixás que “chegam” usam o centro da roda para dançarem e darem os seus axés, com exceção dos orixás “velhos” que são encaminhados a sentarem-se nos banquinhos a eles destinados. Os erís seguem a hierarquia dos Orixás, sendo de responsabilidade do alabê a exatidão dos erís assim como a ordem dos acontecimentos no decorrer do toque.

Balança ou Roda-de-Prontos

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Créditos da Foto – Egbé Òrun Àiyé – RS

Chama-se Balança ou Cassum em homenagem a Xangô e também por conter o axé de todos os orixás em equilíbrio. Há um intervalo na movimentação da roda e os presentes, inclusive os orixás afastam-se do centro do salão, deixando espaço para a roda da balança.

A balança só é realizada quando houver a imolação de quatro-pés, e é constituída exclusivamente por pessoas prontas na religião, que já tenham feito ao menos Borí de quatro-pés, no mínimo 06 pessoas (conta de Xangô) podendo ser em número múltiplo de 06: 12, 18, 24, 32. Caso o número de prontos seja excedente, por ser feito mais de uma balança, aí então costuma-se fazer uma balança com pessoas de orixá de frente e uma balança com o povo de praia. Os participantes colocados lado a lado, formando uma roda de mãos dadas, dançam ao ritmo do tambor que vai gradualmente aumentando de intensidade. É quando ocorre o maior número de ocupações ao mesmo tempo, sendo somente de orixás jovens (Oxum, Iemanjá e Oxalá velhos só podem chegar depois do início dos erís de Oxum). Ao terminar a balança os Orixás cumprem o fundamento: Vão ao Quarto de santo, depois até a porta da rua para cumprimentar os orixás da rua e depois dançam ao som do Alujá de Xangô e do Alujá de Iansã, erís destinados unicamente pelos orixás de frente.

Há a crença de que a balança não pode ser aberta, isto é, as pessoas devem permanecer de mãos dadas até que se inicie o alujá, caso a balança arrebente algo de grave pode acontecer por dos participantes da balança, podendo até ser a morte. Mas caso haja alguma ameaça de arrebentar a Balança, cabe ao alabê, mudar imediatamente o axé indo direto para a execução do Alujá de Xangô. Por causa desta crença, muitas pessoas esquivam-se de participar da Balança, porém é uma obrigação muito forte onde se confirma que o ebó que está sendo realizado é de quatro-pés, o axé que emana no salão durante a balança é algo muito forte, sentido por todos os presentes.

Alujá de Xangô e Alujá de Iansã

Logo após a Balança os Orixás que estão no “mundo” dançam o Alujá do Xangô e o Alujá de Iansã, respectivamente, ritmos do tambor, característicos destes Orixás. Os orixás jovens dançam em frente ao “pagodô” local mais elevado (espécie de palco) onde ficam os alabês. Durante o alujá, o axé e a empolgação com que os orixás dançam é contagiante, proporcionando um momento de rara beleza.

A Saída do Ecó

Terminado os Erís de Obá é hora da Saída do Ecó, que nada mais é do que o despacho do axé de Bará, e do ecó de Bará Lanã e do Bará Lodê (alguidar com água, farinha de mandioca e gotas de epô – azeite de dendê) e do ecó de Oxum (Vasilha de vidro com farinha de milho, água, mel e perfume e flores) (a ordem da saída do Ecô pode mudar, dependendo do lado de religião).

A saída do ecó simboliza a saída de toda a negatividade que existe no ambiente e nas pessoas presentes, prepara o ambiente para os erís dos Orixás de praia, que tem um toque mais brando. Enquanto sai o ecó, os alabês continuam puxando os erís, só que agora puxam os erís dos orixás da rua – Bará Lodê, Ogum Avagã e Iansã Timboá – não há movimento da roda e a assistência evita olhar para o que está acontecendo, virando para a parede. Diz a crença que quem olhar a saída do ecó atrai para si a negatividade ali contida.

Roda de Ibedji

No Batuque de Quatro-pés há a roda de Ibedjis, no Gêge-Ijexá ela acontece durante os erís de Oxum. É o momento em que as crianças participam da obrigação e as mulheres que pretendem a maternidade ou que estão grávidas fazem os seus pedidos e agradecimentos. Os orixás, principalmente Oxum e Xangô, distribuem aos que estão na roda e na assistência, as frutas, os doces – quindins, merengues, cocadas, bolos – que estão no Quarto de santo.

Axé dos Perfumes

Sendo Oxum a deusa da beleza adora perfumes, espelhos, em seus erís há um momento especial em as Oxuns que estão no mundo recebem vidros de perfumes, leques e espelhos. Dançam felizes, empunhando seus leques e espelhos enquanto outras se banham com perfume e distribuem um axé perfumado as pessoas que estão na roda e na assistência. Este axé faz uma referência sobre a “passagem” em que Oxum está no rio banhando-se, num ritual de beleza e encantamento.

Axés dos Presentes

Geralmente acontece quase no final do Batuque, os orixás que estão aniversariando “apresentam” seus bolos, tantos os orixás quanto os filhos de santo que não se ocupam, mostram a todos o seu bolo com a vela acesa (correspondente aos anos de assentamento do orixá), enquanto são saudados pelos presentes. Depois os bolos são servidos aos convidados e o excedente é distribuído juntamente com os mercados.

São de costume também, os convidados ofertarem presentes ao Orixá do Babalorixá ou Yalorixá por ocasião de seu aniversário de aprontamento. Os presentes mais comuns são: flores, perfumes, doces, utensílios que podem ser usados no dia-a-dia Ilê, etc. É neste momento que o Babalorixá ou o próprio Orixá apresenta a todos o presente recebido.

O Axé do Alá de Oxalá

Pertence aos erís do Oxalá o axé do Alá. Em determinado momento, os filhos de santo com estatura mais elevada suspendem ao alto um grande Alá branco. Enquanto a roda e os erís continuam, todos passam por baixo do Alá pedindo ao orixá do branco a paz e a proteção.

O Aforiba ou a Dança do Atã

O Aforiba é o momento em que Ogum e Iansã demonstram a passagem em que Iansã embebeda Ogum para fugir com Xangô. O Babalorixá convida um Ogum e uma Iansã para fazerem o Aforiba, então ela coloca no centro do salão duas garrafas contendo atã (Aforiba) e as armas pertencentes a estes orixás (espadas). Iansã toma as garrafas e oferece á Ogum que logo se embebeda, mas em seguida Ogum volta a si e vai atrás de Iansã empunhando sua espada. Os dois lutam, mas Iansã consegue acalmar Ogum e os dois reconciliam-se e voltam a dançar juntos.

Tendo um Xangô no mundo poderá vir ele fazer parte do Aforiba. Xangô vem em defesa de Iansã e com seu machado de dois gumes entra na luta com Ogum. Aí então, Iansã acalma os dois Orixás.

Os Axêres

Conforme o Batuque vai acontecendo, os orixás chegam (ocupam-se da consciência e do corpo de seus filhos) e fazem o fundamento da religião, conforme o ensinamento do Babalorixá e da Yalorixá. Feita a obrigação os Orixás “sobem”, vão embora. Os orixás são despachados, geralmente por filhos de santo mais antigos e experientes do Ilê, porém eles ficam em “axêre” ou “axêro” (No Candomblé são chamados de Erês), estado intermediário entre a ocupação do orixá e da pessoa propriamente dita. Os axêres agem como crianças, tomam refrigerante e adoram fazer brincadeiras com as pessoas, pois seu linguajar é confuso, trocam as expressões como, por exemplo: “tigue” (tigre) quer dizer carro, “confeitaria” quer dizer bolo, “pouco” quer dizer muito, “feinho” quer dizer bonito, e assim por diante. É um momento de descontração, porém deve ser mantido o respeito, pois apesar de fazerem brincadeiras, os axêres ainda conservam a essência do orixá.

A Levantação da Obrigação

Terminada o período em que a obrigação deve ficar arriada, há a levantação, termo que se refere ao ato de levantar as vasilhas contendo as obrigações de corte que estavam arriadas, limpa-las e guarda-las nas prateleiras dentro do Quarto de santo. Mantendo um costume desde o tempo dos escravos, as obrigações são guardadas no Quarto de santo e ocultas por cortinas que geralmente tem à sua frente imagens católicas que se referem ao sincretismo religioso, assim como velas, castiçais, comidas de santo, flores e outros objetos sagrados pertencentes aos Orixás.

O Peixe

A obrigação do peixe é feita pela manhã bem cedinho, e só ocorre em festas grandes, com quatro-pés. Alguém encarregado deve ir ao rio ou ao mercado público e trazer peixes ainda vivos para serem imolados aos Orixás, de Bará á Oxalá, por isso não pode ser uma quantidade muito pequena. No Quarto de santo são imolados ao menos um peixe para cada orixá. A carne dos peixes imolados é servida com pirão (ebó) no almoço e deve ser consumida pelos presos (filhos que estão de Obrigação) e pelos que estão na casa, pois o ebó de peixe simboliza fartura e prosperidade.

Uma quantidade maior de peixes é preparada frita para ser servida ao povo que comparecer ao Batuque de Encerramento ou no Toque do Peixe – toque realizado na noite do corte do peixe, porém com duração mais curta quando serão consumidos o ebó do peixe e peixes fritos, além das comidas dos orixás.

Mesa de Ibedji

mesa de ibedji
Créditos da Foto – Iya Susana de Xango

A obrigação da Mesa de Ibedji é feita no Batuque de Encerramento e nas ocasiões em que o Babalorixá ou Yalorixá acharem necessárias. É realizada no início da noite e antecede o Batuque de Encerramento. Dela participam crianças de zero a doze anos, além de mulheres grávidas, ou que queiram engravidar. São “tirados” erís de Bará, de Xangô e Oxum (que representam os Ibedji) e dos orixás velhos. A Mesa de Ibedji é riquíssima de detalhes e constitui uma obrigação religiosa com muito axé e beleza. Significa agradar e reverenciar aos orixás das crianças que simbolizam pureza, paz e prosperidade.

Uma grande toalha branca é colocada ao chão e nela colocam-se 1 gamela de frutas, 1 gamela contendo amalá, flores, quartinhas, brinquedinhos, bolo, doces e refrigerantes. As crianças participam em grupos de 06, 12 (números múltiplos de 06, a “conta” de Xangô), sentam-se ao redor da toalha, as menores acompanhadas por um adulto. Servem-se para as crianças: primeiramente canja de galinha, canjica, depois os doces e refrigerante. Após terem comido o que foi servido, são dados ás crianças uma colher de mel e um gole de água. Depois são lavadas e enxugadas as mãos das crianças. Terminadas estas etapas as crianças são levantadas da mesa por pessoas adultas ou por orixás que tenham “chegado” na mesa e conduzidos a formarem uma roda ao som de erís de Xangô. São feitas quantas mesas forem necessárias para que todas as crianças presentes participem da Obrigação.

Encerrada a Mesa de Ibedji, os Orixás que chegaram durante e a Mesa de Ibedji, recolhem os itens que ainda restam na mesa e levam até o Quarto de santo. Os brinquedos são distribuídos entre as crianças que participaram da Mesa.

Toque de Encerramento

É o toque que encerra as atividades públicas do Batuque Grande. Tem uma proporção um pouco menor do que o primeiro toque, pois é antecedido pelo corte do peixe e do corte de confirmação, quando são imoladas somente aves aos orixás. A cor dos axós é preferencialmente o branco e pode acontecer a Mesa de Ibedji antes do início do toque. É nesta noite que serão dados os axés de Obés e Ifá. Entre os alimentos servidos aos convidados prevalecem os doces, além da canja, da canjica e do amalá (este feito com carne de peito de gado). Seguido do toque, no dia posterior há a levantação da obrigação do corte de confirmação.

O Passeio

O término da obrigação para os filhos de santo que estão presos por motivo de seu aprontamento ou por obrigação de Borí. O Babalorixá ou Yalorixá leva os presos até a porta da frente do Ilê e apresenta-os à rua (aos Orixás da Rua), liberando-os para saírem fora dos limites do Ilê.

É comum no centro de Porto Alegre reconhecermos um grupo de presos passeando juntamente com seu Babalorixá ou Yalorixá. Saindo do Ilê vão até o centro visitar lugares de grande significado para a comunidade batuqueira: A Igreja do Rosário construída com o trabalho do negro escravo (antiga irmandade de negros), o Mercado Público – lá compram cereais, grãos, e velas -, o Rio Guaíba (que banha a cidade) – lá reverenciam Oxum e jogam moedas ao rio pedido prosperidade e fartura. Em seguida, vão visitar algum Ilê conhecido onde “batem cabeça” cumprimentando os Orixás do Ilê e lá depositam parte das compras feitas no mercado. De volta ao Ilê, batem cabeça no Quarto de santo e arriam o restante das compras feitas. Cumprimentam o Babalorixá ou Yalorixá na nova condição de Filho de santo pronto, ou Borído (conforme a obrigação realizada).

Axés de Batuque

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Áudio extraído do LP: Este é o Nagô do Rio Grande do Sul com Abelardo Pereira e Coro distribuído, por ARTES DISCOS no ano de 1979.

A primeira transcrição fonética que conhecemos foi publicada por Abelardo Pereira, nos discos de título “Este é o Nagô do Rio Grande do Sul”, Artes Discos, no início do ano 1979. Não temos notícias de transcrições anteriores a esta data, o que não significa que não possam existir; se houver, agradecemos a informação.